Dicas de Leituras

Nossa dica de leitura desta Semana é o clássico Vidas Secas, Editora RECORD do autor Alagoano Graciliano Ramos.


Uma família aparece subitamente do nada avermelhado, num lugar qualquer do Nordeste Brasileiro, a fugir das agruras da seca, onde se esgotam os resquícios de possibilidades. A família migra acossada pela miséria, mas, leva na alma o ânimo, uma esperança, embora vaga, mas sempre renovada e vai envolvendo o leitor numa trama comovente, na qual se misturam os episódios cotidianos dos personagens e a insistência em conviver com a realidade do sertão, a qual envolve a família numa relação telúrica e relutante

Uma narrativa poética, de fácil leitura e comovente, Vidas Secas foi Publicado em primeira edição em 1938, e é na concepção do crítico literário Álvaro Lins o mais humano e comovente dos livros de ficção do Sr. Graciliano Ramos, Vidas Secas é o que contém maior sentimento da terra nordestina, daquela parte que é áspera, dura e cruel, sem deixar de ser amada pelos que a ela estão ligados teluricamente.

No espaço social marcado pela presença das relações capitalista o ser humano é um eterno nômade de sua contraditória e incessante busca, e o meio físico é mero instrumento necessário para a concretização desta busca. Na visão do crítico Literário Antonio Candido, Vidas Secas constituem o aparelho de opressão do pobre. De fato, este é o embate sistemático e constante que Fabiano, o vaqueiro personagem central do romance, trava com o espaço geográfico a partir das pessoas com as quais ele se relaciona, sobretudo o patrão. Uma família marcada pela sujeição, não à terra, como determinante da condição humana, mas, aos donos da terra e do poder, que expropriam-lhe a força do trabalho, cobrando-lhes parcelas abusivas do que é produzido.

Vidas Secas é o único dos seus romances escritos na terceira pessoa, e isto, não fossem outros motivos, bastaria para aguçar o nosso interesse. É também o único inteiramente voltado para o drama social e geográfico da sua região, que nele encontra a expressão mais alta,(Antonio Cândido).

O rigor com a escrita fez do Sr. Graciliano Ramos, um dos mais coesos e sintéticos escritores brasileiros, que na concepção de Antonio Candido, ... ninguém melhor que ele, estabelece e analisa os vínculos brutais entre homem e natureza no Nordeste árido. Mestre do romantismo moderno, Graciliano foi único no seu estilo, enxuto, rigoroso nos detalhes, objetivo na prosa e rápido no ritmo da narrativa, Graciliano é definido por distintos críticos da literatura brasileira, como o melhor romancista moderno.






José Benedito de Brito






Poesia Completa de Manuel de Barros




Inicio este exercício sugerindo Poesia Completa do poeta mato-grossensse Manuel de Barros, editado pela LEYA. Uma coletânea de poesias, com 496 pág. Em 1ª Edição, dos diversos livros, já publicados pelo autor, ao longo de sua trajetória literária.

Poesia Completa não é apenas um livro de poemas é um legado filosófico, o retrato de um estilo de vida de um poeta amadurecido nas veias férteis do Pantanal. Inventivo, dinâmico, surpreendente, Manoel de Barros diz que “Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira”. Verdadeira, devido a sua coerência no estilo e na estética, na leveza de suas metáforas dos meandros de sua linguagem de trastes e árvore.

“Eu fiz o nada aparecer”, o nada para Manuel de Barros, é tudo o que a natureza inventa e lhe permite “transver” a realidade, despindo a alma das coisas inúteis:

Venho de nobres que empobreceram.
Restou-me por fortuna a soberbia.
Com esta doença de grandezas:
Hei de monumentar os insetos!
(Cristo monumentou a Humanidade quando beijou os pés dos seus discípulos.
São Francisco monumentou as aves.
Vieira, os peixes.
Shakespeare, o Amor, A Dúvida, os tolos.
Charles Chaplin monumentou os vagabundos.)
Com esta mania de grandeza:
Hei de monumentar as pobres coisas do chão mijadas de orvalho.

Um poeta que nos golpeia a alma com sua ternura por abandonos, capaz de despir não somente as palavras, mas, alma humana, como quem descasca uma manga madura:



Bernardo é quase árvore.
Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem
de longe
E vêm pousar em seu ombro.
Seu olho renova as tardes.
Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho;
1 abridor de amanhecer
1 prego que farfalha
1 encolhedor de rios – e
1 esticador de horizontes.
(Bernardo consegue esticar o horizonte usando três
Fios de teias de aranha. A coisa fica bem esticada.)
Bernardo desregula a natureza:
Seu olho aumenta o poente.
(Pode um homem enriquecer a natureza com a sua
Incompletude?)

Por tanto caros amigos leitores, faça uma viagem literária na vida poética deste esplendido “beato de ouvir prosas dos rios”.





José Benedito de Brito
     

Um comentário:

  1. Meu querido, Bené, que maravilhosa dica de leitura, só uma alma sensível de poeta como a tua poderia nos apontar tão preciosa leitura! Gratíssima. Flávia Maia

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